sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Deus de Jajouka

Jajouca, Jajouka, Joujouka ou Zahjouka é uma vila que fica ao sul de Tanger, no Marrocos. Nesta vila, um grupo musical chamados de "Mestres da Música", músicos sufis, que induzem o transe pela música, celebram a Boujeloudia com suas músicas. Eles chegaram a influenciar a geração Beat e Brian Jones.
O que ou quem eles celebram com essa música que é o mais interessante. Ele é chamado de "Pai do Medo", Bou Jeloud, um Deus Bode.
"A vila é o lar dos Músicos Mestres de Jajouca como também o santuário do Santo Sidi Ahmed Sheikh, que veio do leste por volta de 800 DC para divulgar o Islão no norte do Marrocos. Como fundadores da vila, a família Attar mantêm uma das mais velhas e únicas tradições musicais conhecidas no planeta. A música e os segredos de Jajouka têm sido passados por gerações, de pai para filho, por cerca de 1300 anos.
Antes da chegada de Sidi Ahmed Sheikh, as lendas dizem que a música tem suas origens de uma caverna nos montes de Jajouka. Quando o primeiro Attar chegou na região, ele dormiu na caverna de Boujeloud onde o "pai das peles" apareceu a ele em um sonho tocando a mais bela música que ele havia ouvido. Boujeloud, por quem a Boujeloudia é tocada, retornou para ensinar aos vilegos uma forma especial de música que eles podiam passar através das gerações".[Músicos Mestres de Jajouca - em inglês]
Boujeloudia:
"Esta música é, em essência, parte de um ritual de fertilidade, uma variante que tem existido por milênios mas que está melhor preservada em Jajouka. Tradições similares são encontradas através do Mediterrâneo aonde personagens mascarados e frenéticos, em certas épocas do ano, espalham medo e pânico entre os vilegos. Algumas teorias apontam às similaridades destas tradições e os festivais romanos da Lupercalia.
Em Jajouka os rituais são centrados em um personagem chamado Boujeloud e uma mulher por quem ele está apaixonado, Aisha Qandisha. Boujeloud, raivoso, tenta acertar os músicos e o público, mas é controlado pela poderosa força da música, a Boujeloudia. Boujeloud segura galhos em suas mãos e em seu frenesi ele pode atacar qualquer um. Mulheres que são atingidas por ele estão seguras de estarem férteis no futuro. Aisha Qandisha dança e o provoca.
Na lua cheia depois de Aïd el–Kebir [festival muçulmano que marca o fim do Hajj ou peregrinação a Meca], os músicos realizam um festival onde esta música fabulosa é tocada. Ela é caracterizada por um certo ritmo e melodia e pode ser executada com muitos instrumentos como ghaita [corneta] e tebel [tambor de pele de cabra], lira [flauta] e mesmo gimbri [viola forrada com pele de cabra] e bendir [tamborete]. Ela pode ser executada também em outro momento, em casamentos e festas. Todo mundo pode dançá-la, mas deve ficar atento ao homem com um chapeu de palha e uma pele de bode. Boujeloud pode vir correndo de repente e o dançarino terá tempo apenas para ver os olhos faiscantes antes de ter que correr".[Músicos Mestres de Jajouca - em inglês]

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Arthame - O Coletor de Sangue

ArthameArthanaArtanusArthanyArtavo, ou como é mais popularmente conhecido, Athame, é a Faca de Conjuração do Feiticeiro. É basicamente, uma faca de fio duplo afiado, de cabo negro.

A primeira aparição do termo é encontrada no famoso grimório medieval Clavicula Salomonis (As Chaves de Salomão), e é para ele que devemos nos voltar para realmente conhecer este Instrumento da Magia, ao contrário das suposições errôneas que são veículadas à grosso modo.

A origem do termo é incerta. Alguns dizem que o termo próvem do grego Athanatus, "Aquele que não morre", mas parece que essa origem é incorreta. Andrew Chumbley, por sua vez, traça a origem da palavra para o termo Adh'amme ou Al-dhamme, uma faca ritual utilizada pelo culto feiticeiro marroquino conhecido como Dhu'lqarneniAdh'amme significa literalmente "Coletor de Sangue"; tal origem do termo é também defendida pelo conhecido escritor e ocultista Idres Shah. Uma terceira origem para o termo, diz que ele vem do latim artavus, significando "faca de pena", sendo uma pequena faca utilizada para afiar as penas dos escribas. Tal termo é bem atestado no latim medieval, embora não seja uma palavra comum. Esta última terminologia é também atestada pelo grimório já citado.

- Leia mais em: Crux Sabbati: Arthame - O Coletor de Sangue
Por Draku-Qayin

sábado, 16 de abril de 2011

A iniciação do Ser


Gradualmente a idéia da auto-iniciação está se espalhando na forma de uma iniciação a um culto, crença ou tradição. Em particular isto é comum nas formas da wicca e bruxaria eclética. Esta é uma idéia curiosa que ao mesmo tempo em que adentra no cerne, se lança para fora dele. Percebo a natureza da auto-iniciação como refletindo um indivíduo que sente um certo chamado e administra os ritos de sua indução sem um intermediário ou professor presente. É uma oferta de servitude e dedicação ao poder que se deseja evocar. Pelo lado bom denota uma escolha pessoal e uma afirmação de crença, aonde o espírito anfitrião é evocado para testemunhar o ato. É um sintoma da humanidade sentindo-se espiritualmente perdida e que procura se reconectar com o que percebe estar perdido. Eles querem se re-ligar, re-anelar sua crença, eles querem fazer sua religião. Muito frequentemente o que está acontecendo é verdadeiramente o que o termo auto-iniciação significa, que você se inicia (espiritualmente). É uma declaração à Criação de que você está se engajando em uma busca espiritual.

Isto é maravilhoso, mas torna-se problemático quando o mesmo auto-iniciado proclama ser iniciado em um culto, crença ou tradição existente, na qual ele não possui qualquer vínculo pelo sangue ou sopro. Nisto eles tentam se re-ligar a algo que está perdido ou algo que nunca esteve lá. Eles se auto-iniciam em uma fantasia de inclusão.

Esta idéia extendida de auto-iniciação - de que você enquanto um auto-dedicado pode escolher um culto ou tradição e dizer que você faz parte - é enganoso se não uma fanfarronice, especialmente quando a tradição em questão existe e você foi incapaz de se conectar a ela. De minha perspectiva, isto deveria te dizer algo, que sua dedicação não foi atraente aos seus pares. É o que acontece em muitos dos casos, onde pessoas simplesmente usurpam tradições e crenças e se auto-adotam em um caminho sem qualquer aprovação ou ligação com a tradição em questão.


Esta é uma possibilidade moderna e é uma das razões pela qual vejo a modernidade como um regresso e não como um progresso positivo. Então temos pessoas auto-iniciadas na Stregoneria ou bruxaria Basca. Estas pessoas comumentemente são atraídas à ilusão do nome ou da mitopoesia que eles puderem reter, mas para mim, que pus o pé na sujeira e bebi deste fogo é estranho ver esta possibilidade surgindo; de que uma pessoa com uma inclinação sentimental se imponha sobre meu sangue e família. É ainda pior  quando vejo que nada dizem do meu sangue e da minha família, mas somente uma devoção deslocada e falha a qualquer que seja o espírito nos ditos panteões, demonstrando uma completa falta de entendimento, veneração e compreensão do mistério que fez sua teia sob a tradição em questão. Para mim é tão estranho quanto se eu decidisse adotar-me na família de Bragança ou Lionheart só porque eu senti uma afinidade com o brasão da família. Acho isso muito ridículo, porque uma tradição verdadeira age como uma rocha sólida para nossa crença. É a encruzilhada entre o próprio sangue e os que trazem a marca que media a tradição propriamente. Isto se manifesta em Magisters e Damas sólidos, que asseguram a passagem da tocha para que o trovão dos inomináveis possa te incendiar na totalidade de seu potencial. Tradição é a encruzilhada de intercessores humanos e mortais que grava a luz nas pedras

Creio que uma boa iniciação no caminho possa começar com uma dedicação solitária à natureza e um espírito escolhido. Mas isto é o começo de um caminhar, não uma aceitação comunitária que se toma em um sopro, vinho e sangue dado no momento da sua dedicação. A auto-iniciação fala do início de sua jornada espiritual. Isto é algo bom enquanto mantivermos a atenção em nós mesmos e não projetamos isto a uma fantasia de inclusão.

Acho que outro vírus moderno é aquele em que todos querem ser algo eminentes e dignos em nome da ambição. Todos querem ser sacerdotes e sacerdotisas de algo. Nisto a busca espiritual se torna um expositor de problemas pessoais. Ao almejar títulos e status, podemos esquecer de nossa essência e o grande trabalho que somos presenteados quando chega o trabalho sobre a essência. Ao fazer isto, podemos transmitir nossa prória disfunção a um grupo maior e nos inclinarmos aos problemas que demos a outros, como se eles não pertencessem ao fundador da crença disfuncional. Isto é importante, porque quando você assume o papel de sacerdote, sacerdotisa, mestre, guru, magister, sua qualidade neste serviço repousa em como você iniciou e resolveu os mistérios do ser.

Então, aqui apresento para a reflexão: quando você busca uma auto-iniciação, o que você busca? Quando você declara uma denominação ou um pedigree  tradicional à sua iniciação, o que você está realmente afirmando? Quando você afirma que é sacerdote/sacerdotisa, quem é você realmente e por que você assumiu este ofício?


Por Nicholaj de Mattos Frisvold
do blog The Starry Cave
Traduzido por Beto Quintas

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Uma Apreensão dos Tempos Modernos




Na coletividade bruxa, atualmente tem-se dilatado o campo de intervenção do concebo, acolá da sua intervenção tradicional na edificação do ‘ser’, sendo o feiticeiro chamado a intervir nos campos da reprodução hábil, se tratando das artes bruxas comuns ou ponto que fornece um elo entre todas as eras em todos os lugares do mundo sob efeito e foco do que era feito a façanha das bruxas antigas. 

Naturalmente, um dos seus dons sempre foi e ainda é, o de criar.

As “culturas”, ainda contêm o papel cada vez mais decisivo na preparação e entendimento de concepções a cerca da bruxaria localizada em determinado território, e esta, por sua vez não pode ser propagada para o todo, tão somente se for adaptada ao ponto diverso do original, adequada de forma a não romper com sua alma.

A ciência que estuda, examina e pesquisa, explora e observa, descobre e ensina as artes bruxas (witchcraft), outrora denominada pelas línguas latinas como Bruxaria, pretende abordar e explanar, em que medida, com que processos, e em que circunstâncias, as Artes Bruxas, concorreram para a formação do que ela é entendida hoje, ao se moldarem pelas ideologias de sábios e sistemas culturais retirados de sociedades antigas, dos quais seus segredos foram re-interpretados ou não em tempos modernos, (tendo particular atenção ao caso do exoterismo), que é notório e confabula muito para a criação de artigos sobre o tema, bem como participaram - direta ou indiretamente - nas contradições, nas tensões e nas crises dos diversos momentos da história da bruxaria do século XX, em contrapartida de um legado esotérico e feiticeiro transmitido linearmente de forma hermética nos limiares dos Covines de bruxaria tradicional.

- Leia mais em: Congrega Lupino


Bruxaria Tradicional para Iniciantes

O que chamamos hoje de Bruxaria, não possui necessariamente relação direta com os cultos pré-cristãos, como se pode facilmente assumir com a onda de textos sobre bruxaria dizendo o contrário. Na realidade ela surgiu a partir da crença e constatação de que algumas pessoas conseguiam manipular realidades. Isto poderia estar ligado a um determinado culto, embora pudesse subjazer a um facilmente.


Um xamã ou sacerdote, por exemplo, podia receber uma iniciação dentro de determinado culto onde se previa a ignição de um poder que ocorria ou florescia naturalmente em algumas pessoas e que, não necessariamente, pertenciam ao culto em questão, ou ainda, não estavam em posição de receber este reconhecimento sacerdotal.

Bruxaria, o que você é afinal?

Neste texto, o autor Agatho Vanth, expressa suas opiniões sobre como ele enxerga a bruxaria: uma religião ou uma religiosidade? Vale a pena conferir.

"Eu já tive as mais extensas dúvidas quando comecei, hoje, encontrei argumentos que me satisfazem para definir a bruxaria como um ofício que atrai para si uma religiosidade. Gostaria de conversar sobre isso com quem concorda e com quem discorda, pois não vim ensinar, mas apenas falar sobre como vejo e sinto algo que pratico e amo.

(...)

Ora vejam vocês, o que a bruxa é senão uma servidora da humanidade! Ela é chamada para predizer o futuro, para curar uma doença, para dar fertilidade a um casal, para tirar ou pôr uma maldição, para abençoar um recém nascido ou um campo recém plantado, é ela quem canta para os espíritos maus e os afasta ou os atrai para a cidade, é ela quem dá o tônico para o homem cansado, que ensina a jovem a arrumar um bom marido, que cura a praga nos campos, que dá o veneno para a futura viúva rica, enfim, é a criatura que permeia a sociedade dando aquilo que ela precisa para satisfazer seus desejos - uns nobres, outros nem tanto".

- Leia mais em: Arte Sábia

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O fio da vida

Que mistério pode haver em algo tão comum e ordinário como o cabelo? Não obstante, o ocidente tremeu com o terro japonês, Ju-On [The Grudge, O Grito], onde o espírito/entidade manifestava-se por longo fios de cabelo negros. O folclore japonês tem diversas histórias onde espíritos e cabelos estão de alguma forma vinculados.
Na mitologia clássica, fios, linhas, cordas, pêlos e tecidos cumprem uma silenciosa tarefa simbólica.
O mito mais conhecido são as Parcas, ou Moiras.
"Em Roma, as Parcas (equivalentes às Moiras na mitologia grega) eram três deusas: Nona (Cloto), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos).
Determinavam o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte, de maneira que nem Júpiter (Zeus) podia contestar suas decisões. Nona tecia o fio da vida, Décima cuidava de sua extensão e caminho, Morta cortava o fio. Eram também designadas fates, daí o termo fatalidade.
Interessante notar que em Roma se tinha a estrutura de calendário solar para os anos, e lunar para os atuais meses. A gravidez humana é de nove luas, não nove meses; portanto Nona tece o fio da vida no útero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento efetivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o individuo definido, a décima lua. Morta é a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento."[wikipédia]

Menos conhecido, eclipsado pelos personagens Teseu e Minotauro, tem o mito de Ariadne.

"Ariadne propôs ajudar Teseu, dizendo-lhe que, se a levasse do palácio com ele, ela lhe daria o segredo para sair do labirinto do qual ninguém escapava. Entregou a Teseu o famoso mithos, novelo antigo usado para preparar a lã, dizendo que o desenrolasse, conforme entrasse no labirinto.
[...]Ela é filha de Pasifae e, enquanto sua mãe gerou um monstro, representando um retorno ao primitivo, Ariadne fez exatamente o oposto, pois venceu o primitivo, ajudando Teseu a vencer o Minotauro.
[...]A simbologia do labirinto é fundamental, pois todos têm, em sua relação com o outro, o Minotauro pela frente e o labirinto a enfrentar, mas às vezes perde-se o fio da meada, ou seja, o fio da vida."[Mitologia Viva, Viktor Salis, pg. 109-112]
Ou seja, o sentido do mito de Ariadne é inverso ao do mito das Parcas, embora estejam correlacionados. Aqui, a linha, o fio, serve para conduzir Teseu ao auto-conhecimento, enfrentando o labirinto da alma que todo ser humano possui, tornando-se senhor de suas pulsões animais e então trazendo-o de volta como um iniciado. O fio de Ariadne ludibriou a Fatalidade que pesava sobre Teseu, pelo auto-conhecimento os homens podem ludibriar o Destino.
Assim nos cercamos ao mito/saga mais conhecida, A Odisséia, quando nos deparamos com Penélope, a esposa de Ulisses/Odisseu.
"Enquanto Ulisses guerreava em outras terras e seu destino era desconhecido, não se sabendo se estava vivo ou morto, o pai de Penélope sugeriu que sua filha se casasse novamente, mas ela, uma mulher apaixonada e fiel ao seu marido, recusou, dizendo que o esperaria até a sua volta. No entanto, diante da a insistência de seu pai, para não desagradá-lo, Penélope resolveu aceitar a corte dos pretendentes à sua mão. Para adiar o máximo possível o novo casamento, estabeleceu a condição de que se casaria somente após terminar de tecer uma peça em seu tear.
Durante o dia, aos olhos de todos, Penélope tecia, e à noite secretamente ela desmanchava."[wikipédia]

Em lendas associadas, Penélope tecia uma cena que revelava um mistério e um Deus ou Deusa vinha desfazer para ocultar o mistério. Ou então que suas bordaduras davam oráculos do que estava por vir e um nobre ou uma cortesã vinha desmanchar para escapar do vaticínio. Na maior parte das vezes, sem sucesso, pois com a volta de Ulisses/Odisseu a tecelagem foi terminada, tudo aconteceu como foi predito e o mistério foi desvelado.

Assim é o destino das coisas, mais como uma trama, onde múltipos destinos se entrecruzam, do que uma única linha tênue. O destino não é apenas uma ação dos Deuses, mas uma co-criação com os homens. Lendas onde homens antigos tomaram o destino nas mãos nos levam ao Velocino de Ouro.
"O Velo de Ouro é na mitologia grega a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo. Conta-se que tal velo estava pendurado num carvalho sagrado na Cólquida. Segundo a lenda, Jasão precisava recuperar o velo para assumir o trono de Iolco na Tessália.
Atamas, rei da cidade de Orcomeno na Beócia, teve como primeira esposa a deusa das nuvens Nefele, com quem teve dois filhos, o menino Frixo e a menina Hele. Mais tarde, ele se apaixonou e casou-se com Ino, a filha de Cadmos. Ino tinha ciúmes de seus enteados e planejou matá-los.
Nefele, em espírito, enviou às crianças um carneiro alado cuja lã era feita de ouro. Com esse carneiro, as crianças poderiam escapar por sobre o mar. Entretanto, Hele caiu e se afogou no estreito que passou a carregar seu nome, o Helesponto. O carneiro pôde levar Frixo a salvo para a Cólquida, no extremo oeste do Mar Euxino. Frixo sacrificou então o carneiro e pendurou seu velo numa árvore guardada por um dragão, em um bosque consagrado a Ares."[wikipédia]

Aqui o mito adverte contra o maior erro humano, chamado pelos gregos antigos de hubris. Jasão adquiriu o velo de ouro, tornou-se rei de Iolco, mas sua dinastia teve uma curta duração, como conta a tragédia grega "Medéia". Ele, como muitos humanos, perseguiu o sucesso, a riqueza, o prestígio, sem se importar com as consequências, desafiando não o destino, mas a medida certa das coisas, chamada pelos gregos antigos de sofrósina.
Por último, mas não menos importante, é a prática da "vaecordia" ou "ligadura" no Ofício. O que mais amedrontava os nobres, feudatários, padres e bispos não eram os conjuros, mas a habilidade das bruxas de tornar um homem impotente com uma inocente e comum linha de costura. Não ter herdeiros em um mundo dominado por questões de cessões e posses de terras era mais do que uma questão econômica. Era uma questão de poder, de autoridade, de influência. Coroas e tiaras dependiam disso e, com um simples fio, a bruxa podia alterar o destino de reinos e dioceses.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

De Clavis Argentum: ou a Chave para o Reinado dos Sonhos

Os Sonhos são os caminhos para os Oráculos de Deuses e Demônios. É por meio dos Sonhos, Oneiroi, os misteriosos filhos de Hypnos, que caminhamos nas Estradas Tortuosas que guiam rumo ao Verdadeiro Sabbat. É no Reinado dos Sonhos que podemos contemplar o brilho da Verdadeira Cruz, e é lá que se corporifica o Campo onde o Congresso com os Espíritos dos Mortos Poderosos é concedido. É nos Sonhos onde ocorre nosso encontro com o Mestre Chifrudo e com a Rainha de Elphame, com as Hostes de Anjos e Demônios e todo Cortejo Oculto da Arte Sábia.

Mas deve-se ter em mente que, quando falamos em Sonhos, não estamos nos referindo aos sonhos mundanos do dia a dia. Conforme explica Agrippa: Por sonho, neste sentido, não me refiro aos sonhos vãos ou à imaginação ociosa, pois estes são fúteis e nada têm de divinatório, surgindo apenas das observações diárias e de algum distúrbio no corpo. Pois quando a mente está ocupada demais e esgotada de tanta preocupação, ela provoca sugestão naquele que dorme. Chamo de Sonho, aqui, aquilo que é causado pelas influências celestiais no fantástico espírito, mente ou corpo, se estão todos bem dispostos”.


domingo, 10 de abril de 2011

O Diabo Sábio

El Aquelarre - Goya
O papel do Diabo na Bruxaria pode ser um mistério confuso para alguns. Afinal, a imagem do Diabo é velada no mal e na misantropia, e muitas outras denominações feitas pelas igrejas cristãs que se fizeram dependentes dele para sustentar seus evangelhos. Você se volta para Deus porque precisa odiar o mal traduzido no Diabo. O mal, assim como o pecado, é perder o ponto, e conseqüentemente todas as boas intenções dirigidas por uma mente carente de alinhamento com o coração podem se transformar em um ninho do mal, na medida em que evoca vibrações negativas para a vida dos outros e à sua própria.

- Original in English: The Starry Cave: The Wise Devil

sábado, 9 de abril de 2011

O Feiticeiro Perfeito

A feitiçaria de superfície é analogia; a feitiçaria de profundidade, a sintonia.

Em outras palavras, atrás dos falsos segredos das doutrinas (falsos, porque sempre ou quase sempre se acaba por conhecê-los) encontra-se um dos verdadeiros mistérios do Ser, mas não o único, dando-se a simbiose entre a caveira arrazoada e os ossos lineares, a equivalência simbólica da parte e do todo.

A melhor prova disso é a concepção bruxa do Feiticeiro Perfeito. As feitiçarias não estão de acordo sobre a natureza e a origem do homem; entretanto, um consenso intervém quando a questão é a de descrever o modelo humano, o homem transformado, espelho da feitiçaria fidedigna, assim como espelho do mundo sábio.

A noção de Feiticeiro Perfeito não parece existir em algumas vertentes feiticeiras. Entretanto, é curioso perceber as semelhanças que ligam as diversas concepções do Feiticeiro nas diferentes artes ocultas, e a concepção da própria palavra.

O que é Tradicional para a Bruxaria Hereditária?

Em relação ao que é sadio em tradicional, referente à tradição, testemunhamos as pessoas alongando-se em sua confusão como uma capa.

Senão vejamos:

Analisando o termo Tradição, que significa literalmente transmissão (do latim: traditio, tradere = entregar), retrocedemos ao grego, em sua acepção religiosa do termo, a expressão é paradosis (παραδοσις).

Na arte dos sábios, tradição mais precisamente é uma transmissão oral ou não, de folclores, narrativas, conhecimentos peculiares e de valores espirituais a que se doutrina uma fé familiar do qual uma geração de bruxos entrega à outra.

Trata-se da crença de uma casta de sábios, cujo totem abre o compasso para os pés do sangue feiticeiro, algo que é seguido conservadoramente e com respeito através das gerações. Uma recordação, memória ou costume entre os parentes, também é o conhecimento ou prática proveniente da transmissão oral ou de hábitos inveterados.

A tradição e sua presença na sociedade baseiam-se em dois pressupostos antropológicos:

a) as pessoas são mortais;

b) a necessidade de haver um nexo de conhecimento entre as gerações.

Tem-se por tradição no sentido amplo tudo aquilo que uma geração herda das suas precedentes e lega às seguintes.

Os aspectos específicos da tradição devem ser vistos em seus contextos próprios: tradição cultural, tradição religiosa, tradição familiar e outras formas de perenizar conceitos, experiências e práticas entre os povos, entre os iguais, entre as proles.

No campo beatificado da bruxaria é onde mais se aplica este conceito. A tradição toma feições mais peculiares em cada crença. Pode-se destacar a presença da tradição nos grandes grupos religiosos: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, todas as culturas com mais de 2.000 anos de tradição linear, portanto, tradicional, e nas pequenas guildas como as da Arte Feiticeira em seus derivados flancos tradicionais.

- Leia mais em: Congrega Lupino

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sapos e Bruxas: O Sapo como Agente Mágico no Folclore e Costumes da Bruxaria Tradicional

“Fui até o sapo que vive sob o muro, Eu o encontrei e ele veio ao meu chamado.”
(Masque of Queens, de Ben Jonson)


Dentro do imaginário popular, seja nos contos de fadas, na arte lúdica, ou na superstição, sapos, magia e bruxas estão bastante ligados. É fácil reconhecer isto nas famosas lendas de príncipes que se tornam sapos por meio dos encantamentos de uma bruxa, ou nas imagens e retratações feitas por artistas durante a Idade Média, onde a figura da bruxa muitas vezes era encontrada junto de sapos. Como é sabido dentro dos meios Tradicionais da Arte, as lendas, contos populares e superstições guardam resquícios de costumes mágicos antigos, e este ensaio tem a intenção de explanar sobre as associações mágicas existentes no sapo, e sua importância para a chamada Bruxaria Tradicional.

O medo desse animal crepuscular faz dele comumente, entre nós, um símbolo de fealdade e falta de jeito. Mas após superar essa aparência descobre-se que o sapo traz consigo todos os significados iniciáticos da água-noite-lua-Yin.
Para os orientais e asiáticos ele é uma divindade da lua.

A mulher de Yi-o-Bom-Arqueiro, que fugira correndo atrás dele logo depois de furtar a droga da imortalidade que ele recebera da rainha mãe do Oeste, chegou a lua e foi transformada em sapo. Ali permaneceu como Deusa da Lua.

Littré diz seu provérbio: "Quando se ama o sapo, parece amar-se a Lua. É o sapo que devora a Lua nos eclipses". 

O sapo velho, quando seco, chama a chuva como a rã e isso atesta seu lado Yin, sombrio e úmido. Além disso, o sapo confere proteção contra as armas do agressor, de acordo com a lenda oriental. Ele também é o tio do deus do Céu, de acordo com os vietnamitas, a quem se encomendam os abençoados aguaceiros, e aqueles que o fizer mal, corre o risco de ser fulminado pelo Céu.

O sapo é ainda o símbolo tradicional do sucesso e, quando escarlate, símbolo de força (é dado como fortificante às crianças), de coragem e de riqueza.
Que o menino talentoso leve nos braços o sapo escarlate, diz uma lenda popular vietnamita. Sapo Escarlate é sinônimo de homem rico. Cumpre explicar isso pela extrema raridade do animal.

Entre os maia-quichés como no Extremo Oriente, o sapo é um deus da chuva. Diz-se no Yucatán que os sapos rezam melhor que nós para pedir chuva.
Na iconografia asteca, o sapo representa a terra.
Nos mitos referentes à origem do fogo, entre algumas tribos indígenas da América do Sul (tupinambá, chiriguano), o sapo se faz cúmplice do homem para furtar o fogo ao seu primeiro dono, o abutre.
As tradições africanas relativas ao sapo são muito diversas.

Para os Bambaras, ele se transforma em rato na estação seca. A ligação entre o sapo e o homem, se revela a cerca da gestação, onde o embrião humano se transforma em sapo, se, se tratar de um embrião feminino, ou, num pequeno lagarto se for macho.

Ligado à água, à terra, à mulher e à umidade, o sapo cura as queimaduras e é tido como invulnerável a mordida da serpente, avatar do fogo, e é capaz de provocar a inércia da serpente que o engolir. Está em afinidade com o sexo da mulher, provocando, por ocasião do coito, a flacidez pós ejaculatória do pênis.

Ele é o conceito de morte e renovação, donde vem a sua utilização para indicar uma classe de sociedade iniciática.
O instrumento musical que o representa é o tambor, chamado de tom-tom pelos africanos, e tem conotação sexual evidente.
Entre as tribos bamouns, seu nome é Tito. Ele é a síntese das horizontais e das verticais. Evoca a silhueta de um personagem sentado ou de um carregador e tem o papel importante nas lendas das origens. 

Às margens do lago Tchad, é ao sapo que as mulheres devem um hábito fundado inteiramente nos laços místicos que ligam à vida do sapo a vida dessas tribos.
O sapo é dono de muitas teofanias, tem espírito maléfico e benéfico e é ele o responsável pela morte se instalar na terra.

A tradição peúle de Kaydara nos revela que o óleo de sapo perfura a pedra chata, símbolo do duplo conhecimento. Ao discípulo que lhe pergunta como passar da ignorância ao saber, o mestre da iniciação responde: Transforma-te em óleo de Sapo. O que equivale dizer que o homem, sem deslocar as coisas, pode penetrar nelas profundamente pela fluída finura do seu espírito.

No Ocidente o sapo tem símbolo régio e solar, anteriormente à flor de Lis. Figura, nessa qualidade, no estandarte de Clóvis. Guénon diz que pode haver confusão com a rã que é o símbolo da ressurreição, mas ele é o inverso da rã, a face lunar, infernal e tenebrosa. Ele intercepta a luz dos astros por absorção.
Seu olhar fixo denota insensibilidade ou indiferença à luz, uma vez que é através dele que ela passa.

Há muito mais para se falar dos sapos, mas fica pra outra ocasião, onde pretendemos recheá-los de sapo.














quinta-feira, 7 de abril de 2011

Palácio Sob As Águas


Os Contos de Fadas sempre foram portadores de crenças, valores e imaginários. Quanto mais antiga é a lenda, mais podemos capturar a essência do pensamento de nossos ancestrais.

Vamos começar contando esta - Palácio Sobre as Águas, que nos remete a um "outro-mundo" imaginado em Praga, no século XIX:

"Há muitos anos, na cidade de Praga, não distante do rio Moldava, vivia um próspero comerciante cujo nome era Kalman. Ele tinha uma única criança, uma filha, cujo nome era Haminah. Ela era tão linda que muitos achavam que parecia uma princesa. Seu adorado pai a fez noiva de um jovem que era uma combinação perfeita, exceto pelo fato dela não suportava a idéia de se casar com ele. Pois se assim fizesse, ela perderia para sempre o seu verdadeiro amor, aquele que vinha a ela do outro lado do rio todas as noites. Mas ninguém sabia disto, pois ela o havia mantido em segredo...."