sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sapos e Bruxas: O Sapo como Agente Mágico no Folclore e Costumes da Bruxaria Tradicional

“Fui até o sapo que vive sob o muro, Eu o encontrei e ele veio ao meu chamado.”
(Masque of Queens, de Ben Jonson)


Dentro do imaginário popular, seja nos contos de fadas, na arte lúdica, ou na superstição, sapos, magia e bruxas estão bastante ligados. É fácil reconhecer isto nas famosas lendas de príncipes que se tornam sapos por meio dos encantamentos de uma bruxa, ou nas imagens e retratações feitas por artistas durante a Idade Média, onde a figura da bruxa muitas vezes era encontrada junto de sapos. Como é sabido dentro dos meios Tradicionais da Arte, as lendas, contos populares e superstições guardam resquícios de costumes mágicos antigos, e este ensaio tem a intenção de explanar sobre as associações mágicas existentes no sapo, e sua importância para a chamada Bruxaria Tradicional.

O medo desse animal crepuscular faz dele comumente, entre nós, um símbolo de fealdade e falta de jeito. Mas após superar essa aparência descobre-se que o sapo traz consigo todos os significados iniciáticos da água-noite-lua-Yin.
Para os orientais e asiáticos ele é uma divindade da lua.

A mulher de Yi-o-Bom-Arqueiro, que fugira correndo atrás dele logo depois de furtar a droga da imortalidade que ele recebera da rainha mãe do Oeste, chegou a lua e foi transformada em sapo. Ali permaneceu como Deusa da Lua.

Littré diz seu provérbio: "Quando se ama o sapo, parece amar-se a Lua. É o sapo que devora a Lua nos eclipses". 

O sapo velho, quando seco, chama a chuva como a rã e isso atesta seu lado Yin, sombrio e úmido. Além disso, o sapo confere proteção contra as armas do agressor, de acordo com a lenda oriental. Ele também é o tio do deus do Céu, de acordo com os vietnamitas, a quem se encomendam os abençoados aguaceiros, e aqueles que o fizer mal, corre o risco de ser fulminado pelo Céu.

O sapo é ainda o símbolo tradicional do sucesso e, quando escarlate, símbolo de força (é dado como fortificante às crianças), de coragem e de riqueza.
Que o menino talentoso leve nos braços o sapo escarlate, diz uma lenda popular vietnamita. Sapo Escarlate é sinônimo de homem rico. Cumpre explicar isso pela extrema raridade do animal.

Entre os maia-quichés como no Extremo Oriente, o sapo é um deus da chuva. Diz-se no Yucatán que os sapos rezam melhor que nós para pedir chuva.
Na iconografia asteca, o sapo representa a terra.
Nos mitos referentes à origem do fogo, entre algumas tribos indígenas da América do Sul (tupinambá, chiriguano), o sapo se faz cúmplice do homem para furtar o fogo ao seu primeiro dono, o abutre.
As tradições africanas relativas ao sapo são muito diversas.

Para os Bambaras, ele se transforma em rato na estação seca. A ligação entre o sapo e o homem, se revela a cerca da gestação, onde o embrião humano se transforma em sapo, se, se tratar de um embrião feminino, ou, num pequeno lagarto se for macho.

Ligado à água, à terra, à mulher e à umidade, o sapo cura as queimaduras e é tido como invulnerável a mordida da serpente, avatar do fogo, e é capaz de provocar a inércia da serpente que o engolir. Está em afinidade com o sexo da mulher, provocando, por ocasião do coito, a flacidez pós ejaculatória do pênis.

Ele é o conceito de morte e renovação, donde vem a sua utilização para indicar uma classe de sociedade iniciática.
O instrumento musical que o representa é o tambor, chamado de tom-tom pelos africanos, e tem conotação sexual evidente.
Entre as tribos bamouns, seu nome é Tito. Ele é a síntese das horizontais e das verticais. Evoca a silhueta de um personagem sentado ou de um carregador e tem o papel importante nas lendas das origens. 

Às margens do lago Tchad, é ao sapo que as mulheres devem um hábito fundado inteiramente nos laços místicos que ligam à vida do sapo a vida dessas tribos.
O sapo é dono de muitas teofanias, tem espírito maléfico e benéfico e é ele o responsável pela morte se instalar na terra.

A tradição peúle de Kaydara nos revela que o óleo de sapo perfura a pedra chata, símbolo do duplo conhecimento. Ao discípulo que lhe pergunta como passar da ignorância ao saber, o mestre da iniciação responde: Transforma-te em óleo de Sapo. O que equivale dizer que o homem, sem deslocar as coisas, pode penetrar nelas profundamente pela fluída finura do seu espírito.

No Ocidente o sapo tem símbolo régio e solar, anteriormente à flor de Lis. Figura, nessa qualidade, no estandarte de Clóvis. Guénon diz que pode haver confusão com a rã que é o símbolo da ressurreição, mas ele é o inverso da rã, a face lunar, infernal e tenebrosa. Ele intercepta a luz dos astros por absorção.
Seu olhar fixo denota insensibilidade ou indiferença à luz, uma vez que é através dele que ela passa.

Há muito mais para se falar dos sapos, mas fica pra outra ocasião, onde pretendemos recheá-los de sapo.














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