quarta-feira, 29 de junho de 2011

Adoração por Ambas as Mãos: São Pedro - Bruxaria Tradicional

Assim como o Bruxo serve aos Deuses Anciãos com ambas as mãos igualmente, assim devem todos os deuses e santos da adoração mortal virem para servi-lo nos Mistérios.

Adoração por Ambas as Mãos é um termo que por vezes aparece em ensaios sobre Bruxaria Tradicional. Uma prática comum aos Bruxos e Feiticeiros de diversas localidades, esta forma de adoração dual tem como intenção alinhar um santo, espírito, avatar ou deidade de um culto mortal à corrente fluída, eterna e quintessencial da Arte Sábia, e assim alinhado, tal espírito irá trabalhar como um dos muitos familiares do Bruxo em sua peregrinação.

Neste dia 29 de Junho, dia do famoso São Pedro, santo muito querido para diversos cultos e tradições mágicas, Draku-Qayin nos traz em seu Crux Sabbati, uma novena mágica para São Pedro, alinhada com as formas tradicionais da Arte Bruxa.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Entre a História e os Histéricos

Enquanto pessoas honestas fazem estudos sérios e produzem textos coerentes, muita (des)informação circula pela internet. Raciocínio circular, deturpação dos fatos e [por que não dizer] sofisma são proferidos por supostos gurus, sacerdotes e bruxos de pataquada, discursando sua pequena e limitada visão do que é a Bruxaria, arrogando a si mesmos uma autoridade discutível e risível.

No intuito de divulgar informação, fatos históricos e artigos coerentes no aspecto histórico, antropológico e folclórico, eu disponho aos amigos e leitores do Bruxaria Tradicional os links com as transcrições da Revista de História Biblioteca Nacional.


Boas leituras!




domingo, 5 de junho de 2011

A Lei Natural de Eros

The english version of this text may be read in Speculum Celestae, clicking here if you are an english reader.



A Lei Natural de Eros

Debates a respeito do natural e o perverso estão surgindo constantemente. Homossexualidade e práticas sexuais ‘incomuns’ de qualquer variedade geralmente chamam a atenção, pois aqui, no mundo do sexo, todos os homens e mulheres encontram suas inclinações mais puras e sua escuridão mais crua.  A escala nestes debates está entre as inclinações pessoais sensuais, em como elas são mediadas com uma moral universalista que insiste que todos possuem as mesmas inclinações sensuais — e aqueles que escapam do lícito são considerados  pervertidos — ou pior. Estes discursos morais são, quase sempre, ditados sobre motivos religiosos, propagando uma escala muito curiosa entre a liberdade e o pecado, e a vergonha das  inclinações. Neste clima de ‘uma moral que serve para todos’ a resistência chega naturalmente à superfície.

Os debates que vemos hoje podem ser ancorados no século XI e nos debates eclesiásticos sobre a Lei Natural — aqui encontramos São Tomás de Aquino, que realmente nos disse para olharmos para a natureza para que pudéssemos ver o que era natural, desde que ele não considerava o sexo como algo particularmente sagrado — mas sim algo que os humanos compartilhavam com todos os outros animais.

No Livro de sua Summa, Tomás discute as questões da Lei. Dada a orientação platônica e a influência muçulmana as quais Tomás foi sujeito, podemos supor que ele, ao falar da Lei Divina, não estava falando de shari’ah, mas da essência do próprio Islã — submeter-se a Lei Divina, como Abdullah, um escravo de Deus. Essa idéia certamente envolve a doutrina do Destino e como todos nós nascemos com um condicionamento único, que permite um único caminho (lei) para a obtenção da bondade em nossas vidas. Ser um escravo de Deus implica que descobrimos a única lei que nos conduz à abundância, como uma extensão da Lei Divina. Como espelhos de Deus, nós, enquanto humanos, também refletimos todas as suas possibilidades espelhadas em seus 99 maravilhosos nomes. Há, portanto, uma distinção entre a Lei escrita e a Lei natural.

A distinção entre a Lei escrita e a Lei natural também está incorporada no cristianismo, nos evangelhos que falam da missão de Jesus Cristo. O que é evidente é que Jesus se considerava um profeta da lei eterna, escrita no coração de cada um nós. Aqui encontramos a divisão entre Lei, como um conjunto de regras de conduta vazio de razão. 'Siga a lei escrita e você não pode errar’ parece ser a mensagem, e a Lei transformada em um conjunto de regras que não precisa de razão para trazer a salvação. A lei eterna escrita em nossos corações segue uma dinâmica que necessita que estejamos conscientes sobre nossas ações e motivações. Infelizmente, a consciência está sendo gradualmente substituída pela temporalidade e interpretações morais dominando o momento sócio-espacial.

É a lei escrita no coração dos homens que Tomás de Aquino discute em sua Summa. É esta Lei que ao longo do tempo foi reinterpretada à luz moral e que deu origem à doutrina eclesiástica sobre o pecado e a sexualidade como a conhecemos atualmente no Ocidente. Tomás, por outro lado, foi acusado pelos teólogos posteriores de ser ingênuo nestas questões. Bem, a ingenuidade dele é a mesma posição que encontramos no tasawwuf (Sufismo), Advaita Vedanta e diversas linhas de pensamento místico.

No terceiro artigo do segundo Livro, Tomás trata a lei como uma forma de medida racional e vê a Lei eterna como algo em que temos uma participação única. Corretamente ele sugere aqui que a capacidade para a tentação é uma consequência da natureza da própria Lei, portanto, natural — porém, mais importante, ele diz:

Primeiramente, na medida em que ele inclina diretamente seus súditos a algo; às vezes súditos distintos a atos diferentes, e neste sentido podemos dizer que há uma lei militares e outra mercantil. Em segundo lugar, indiretamente, e deste modo, ao destituir a dignidade de um de seus súditos, este passa para outra ordem e assim sob outra lei. Assim, se um soldado é expulso do exército, ele se torna sujeito à legislação rural ou mercantil.

Estes comentários são similares ao que encontramos no Bhagavad Gita quando o texto discute a lei, isto é, dharma e karma. A Lei está sujeita ao que se pretende fazer — se o trabalho de alguém muda, por exemplo, então o mesmo acontece com as regras de conduta. A Lei concede uma passagem diferente para aquilo que é lícito e bom. Falando de forma simples, um soldado possui o dever de matar — esta é a lei pela qual ele vive, enquanto um comerciante vive de acordo com outras regras que valorizam outros atos no lugar de matar. Tudo é flutuante — e aqui estamos falando de papéis sociais. Ela deve, logicamente, se tornar mais rica em nuances quando medimos a Lei com a medida da natureza de uma substância, tal como encontramos em uma pessoa. O que Tomás tentou dizer é que existem algumas regras de conduta que são universalmente boas, pois elas refletem nossa Divindade. Todas estas são qualidades que marcam uma pessoa como portadoras de um bom caráter, que é proveniente do próprio Amor.

No sexto artigo Tomás é mais especifico quando diz:

várias criaturas têm várias inclinações naturais, de tal modo que aquilo que é, por assim dizer, uma lei para um, é contrária a lei de um cão, embora oposta à lei de uma ovelha ou outro animal manso.

O que causa uma divergência entre o homem animal e os outros animais é a presença da consciência. Mas isso é algo que é desenvolvido e não automaticamente atingido, como o Salmo 48:21 nos diz: “O homem, quando estava em honra, não entendia: ele fora comparado às bestas inconscientes, e feito como eles.

O que ele simplesmente diz é que com o advento da razão ocorre uma maior capacidade de discernimento. Até que a razão seja desenvolvida no homem, ele é uma besta orientada pelos impulsos da sensualidade, e como um animal humano ele é dirigido pela lei natural como qualquer outro animal que age de acordo com suas inclinações e impulsos. Com a razão, as inclinações podem tomar forma e se tornam expressões de nosso dharma. Aqueles que exercitam as inclinações naturais do prazer são fiéis a si mesmos — enquanto que aqueles que censuram a si com o archote da condenação revelam que são vítimas do chamariz da culpa. Através disso eles negam a eles próprios...

Esta distinção que Tomás faz entre os impulsos sensuais e a extensão da Lei divina conforme ela toma forma na razão é interessante. Ela pode ser interpretada como se as inclinações sensuais não estão sujeitas à Lei divina — mas ao desenrolar natural da própria naturalidade, quando agimos de acordo com nossa natureza, na forma de uma besta, vazios de razão — podemos dizer que a Lei divina tem precedência em qualquer forma, exceto como provendo uma sombra para as inclinações sensuais mediadas por um único coração?

A razão pode nos ajudar no entendimento de nossas inclinações sensuais; ela pode ser uma soberana serena que dá sentido às nossas inclinações e através disto, abrir as vias para o eterno. Esta possibilidade está aberta, não pela negação das inclinações — mas ao permitir que elas sejam mediadas pela razão e a sensibilidade às harmonias naturais.

E assim, a lei do homem, que pela ordenação Divina é a ele atribuída, segundo a sua própria condição natural, é que ele deveria agir em conformidade com a razão”, conclui Tomás. E com isso podemos resumir que nossas inclinações sensuais, em toda sua rica variedade, na medida em que traz felicidade — é simplesmente algo natural que agregado à razão pode trazer a bondade a abundância. A questão parece não confundir os planos como tantos moralistas odiosos tendem a fazer quando dizem que toda a criação de Deus é uniforme e singular — uma criatura das massas...

... Nisso, o sábio Eros pode germinar e revelar a grandeza criativa do Criador!

sábado, 4 de junho de 2011

O Forcado: O Mastro Bifurcado do Diabo - Bruxaria Tradicional

Neste ensaio, o autor Draku-Qayin nos presenteia com uma exploração do simbolismo do Forcado, também conhecido como a Estaca ou o Mastro Bifurcado.

Talvez um dos Instrumentos de Trabalho mais conhecidos da Bruxaria Tradicional, o Forcado passou a fazer parte inclusive de algumas práticas de Bruxaria Moderna, ao qual não pertencia originalmente.

O autor fornece os diversos simbolismos deste objeto, bem como os modos que ele é utilizado tradicionalmente por diversas vertentes da Arte Sábia, e finaliza seu ensaio presenteando o buscador com um belíssimo ritual para a construção e consagração desta Regalia da Arte das Bruxas.