segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Rosh ha Sitan e as transições de Lilith

This post was originally published in The Starry Cave. 




Lilith, originalmente um espírito dos ventos hostis na Penísula Arábica, se tornou uma devoradora de crianças, um súcubo e finalmente uma Rainha dos vampiros. A Primeira mulher de Adão, segundo o ben Sira e uma rainha demoníaca e  hostil, de acordo com o Zohar.

Lilith era um espírito estrangeiro e intruso; encantamentos eram feitos para afastá-la - e anjos eram enviados para pôr fim na procriação de seus lilins. Os mensageiros angelicais tiveram que fazer uma trégua e um acordo – ela estava aqui para ficar. Ela surge a partir de um espírito fadado a morrer, como um dinossauro – no entanto seu legado e proeminência ainda são espalhados por todo o mundo com o desenvolvimento da história. Quanto mais derramamento de sangue  e devastação encontramos, mais encontramos Lilith.

Lilith ascende à proeminência no mundo a partir das sombras das tempestades e dos maus agouros. Ao longo do tempo ela foi associada à  Lua, com Vênus, à mãe dos Djinn e a mãe dos Sidhe (‘fadas’). Ela foi tratada como um súcubo – ou a mãe deles, como um Espectro e uma Feiticeira. Da Suméria e Caldéia ela esticou suas asas sobre Edom, Síria, Arábia e Europa. Blavatsky a viu como uma sombra éterea primordial da sexualidade – e é a partir de sua teosofia que encontramos as idéias modernas que a enxergam como um ícone da mulher reprimida que busca o domínio.

No livro de necromancia intitulado ‘Forbidden Rites’ (Ritos Proibidos, Penn State Uni Press., 1997) Richard Kieckhefer fornece instruções para a criação de um espelho de Lylet ou Lilith. Este espelho deve ser confeccionado  nos dias de Saturno, nas horas de Marte (i.e. o maléfico com maléfico). O gênio daemônico, contudo, é chamado Floron. Floron deve er uma referência a um espírito do verde, sendo floral pelo o nome e, portanto, uma referência ao Jardim do Éden pode ser detectada.

No Lemegeton temos dois candidatos que podem estar lingüisticamente relacionados e, assim, pode ser que Floron seja na verdade ou Flauros (Havres) e/ou Focalor, ambos duques sob os raios de Vênus. Flauros é um duque formidável que surge na forma de um homem-leopardo, e nos diz muito sobre a hoste caída e as condições do mundo antes da queda. Ele é um duque impetuoso e ígneo e pode ser utilizado em trabalhos de vingança. Ele recebe o valor cabalístico de 212, ‘esplendor’. Focalor aparece como um grifo, uma criatura com o corpo de leão e asas de águia. Ele é um espírito do vento que é ligado aos oceanos e mares. Seu valor cabalístico é 342, que significa ‘caminho’. Juntos eles resultam em 554 que é Zorea Zara, ‘carregar a semente’ – conseqüentemente, algo fértil acontece aqui, onde o caminho do esplendor se abre para a semente. Diz-se também que foi prometido a Focalor entrar novamente no céu após mil anos de servidão, – mas no final a entrada foi negada.

Então, o próprio espelho é um produto dos duques do Lemegeton, um espelho de Vênus. Porém, este espelho de Vênus deve ser produzido quando os dois maléficos, Marte e Saturno estão fortes – ou para trabalhos benevolentes quando Júpiter e Saturno são encontrados em bons aspectos entre si. Além disso, Flauros é um demônio de Capricórnio enquanto Focalor é um demônio de Touro – e Touro é o signo que detém a estrela Algol na constelação de Perseu. Assim como Medusa procurou refúgio em uma caverna, Lilith procurou refúgio numa caverna no mar vermelho.

Encontramos sua mais recente interpretação na série ‘True Blood’ da HBO. Aqui Lilith surge de poças de sangue causados pela intoxicação de seus lilins que entram em uma sede de sangue frenética – e ela mesma traz dispersão e devastação em uma estranha sedução em seus filhos. Talvez esta visão seja a mais precisa na percepção de sua natureza. Trata-se de dominação, de êxtase, de frustração. Lilith é sexual, mas ela está muito mais relacionada com a frustração da liberação tardia da sexualidade, atípica da tradição vama marg da prática tântrica kaula do que um com um florescente jardim de delícias sexuais. Assim como a lua negra astrológica – a ela associada – é um ponto matemático no espaço, ela também é um estado mental semelhante ao que é conhecido no BSDM como ‘subestado’.

Ela não é um poder restrito à ordem estabelecida pelos homens e, portanto, ela sempre escapa de qualquer rótulo e qualquer tentativa de colocá-la em uma caixa racional nítida de clareza e identidade. No momento em que isso acontece, ela se liberta e declara que ela é diferente disso.

Como o mundo neo-pagão está crescendo, a veneração de Lilith como um daimon da sexualidade e poderes femininos também tem visto um crescimento. Apesar de nunca ter sido um daimon da fertilidade ou da maternidade, ela é cada vez mais tratada como tal. Ela é vista como uma salvadora de mulheres reprimidas, e talvez nisto ela tenha uma função benevolente. Mas isto não é ela; ela é muito mais…

Lilith passou por uma transição nos dias modernos que é muito semelhante ao que encontramos na astrologia, considerando a natureza da oitava casa e o signo de Escorpião. A astrologia moderna vê a casa 8 regida por Escorpião e vê Escorpião como o impulso sexual primordial. A astrologia clássica vê o signo de Escorpião regido por Marte,  um signo escuro e úmido que é intuitivo e sedento pela morte. Sua sexualidade está em conformidade com instintos primordiais de sobrevivência e procriação, como ocorre na maioria dos anfíbios. A oitava casa é em si um local onde morte – e conseqüentemente heranças são lidas e previstas. Na oitava casa Saturno encontra seu júbilo e é aqui que todo maléfico se une na luxúria anfíbia dos crocodilos, víboras e escorpiões…

Então, certamente, Lilith é um daimon sexual, mas seu luxúria erótica é o da noite e das sombras. Na verdade, ela é a erva venenosa  e a cabeça da Medusa – ela está além dos planetas, ela é Algol – e aqui na terra, tais questões estelares se manifestam como  terror. Ela não  gentil, ela era a esposa de Samael, o veneno de Deus, e era a árvore proibida, o próprio contrapeso. Ela era a mãe dos amaldiçoados, aqueles que foram chamados de bruxos e feiticeiros por aqueles que não conseguiram entendê-La, nem aos seus filhos.


Ela é verdadeira  e profundamente ligada com a estrela Algol ou al-ghûl – nomeada assim dada a classe de djinns de mesmo nome. Tal estrela é encontrada no heléboro e nos diamantes. É distintivamente saturnina, mas exaltada quando Marte está ascendendo. O impulso de Vênus está relacionado a graça feminina, ao velar dos diamantes no heléboro para deflagrar vingança ou caos...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Lilith Mashkim Ninanna

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As idéias neopagãs contemporâneas de Lilith tendem a vê-la como um tipo de espírito de regozijo extático e potência sexual feminina. Na mesma linha, há também tentativas de mesclagem de Lilith com Belili e Baalat, dado o motivo de ambos os nomes se referirem a uma ‘bela donzela’. De fato, esses epitáfios remetem a Astarte-Ishtar como a Rainha destes espíritos inquietos e perturbadores.

Lilith, em si, é um espírito verdadeiramente perigoso, a Rainha dos lilins — sendo ela própria a filha eclíptica de Ishtar. Lilith é a volátil potência venusiana equilibrada em si, porém, propensa a semear desarmonia e frustração. Ela é uma protetora-bruxa, mas também é uma mãe que se alimenta dos seus. O mistério dela fala do princípio antes dos inícios e sua graça é medo e lágrimas. Sua amabilidade são os buracos negros de estrelas que explodem...

Se observarmos os textos ugaríticos a nossa disposição, como Maqlû e, claro, a história de Gilgamesh, o que surgirá é que  Astarte-Ishtar é na verdade a Rainha das ‘belas donzelas’ — das hostis, bem como das benevolentes — pois elas integralizam a sua totalidade.

Lilith, assim como Astarte-Ishtar, dispõe de asas. A presença de asas sugere várias questões; sendo uma delas a relação com os ventos e a conexão com o Mundo Inferior, sendo outra. O último motivo é encontrado no poema da descida de Ishtar ao Mundo inferior, onde lemos que os habitantes estão ‘vestidos como pássaros, com asas como indumentária’. Há, para os espíritos e divindades possuidores de asas, uma agilidade para se mover entre estados e reinos.

Demônios femininos em geral possuem asas e, neste caso, os ventos possuem importância primordial. Na Mesopotâmia os ventos e seus espíritos foram de grande importância. Os ventos traziam presságios, bênçãos, demônios — e doenças. Um vento frio no norte durante a noite seria julgado como mau agouro, assim como uma brisa fresca do leste durante o dia poderia ser visto como uma hoste de espíritos bem-vindos soprando sobre a terra. O Maqlû fala de Ardat-lili como uma ‘mulher de gelo’ e Lilith sendo um vento gelado do norte. Encontramos aqui os espíritos lilin definidos pelos ventos gélidos, frios e noturnos. Todos nós testemunhamos ventos frios que sopram durante a noite, que curvam os galhos das árvores e geram certa atmosfera de ameaça e perigo. Estes são os ventos das asas de Lilith, quando ela procura uma porta ou janela que possa lhe acolher.

Alguns dizem que Lilith gerou a lua — mas isso é incorreto, pois os lilin são espíritos que carregam os ventos da Vênus noturna. Eles florescem na luz lunar — o olho divino que os espreita, observa, cuida — mas a idéia de que Lilith é uma deusa lunar é muito provavelmente incorreta, mesmo que as belas donzelas banhem-se nas águas prateadas da lua...

Ela é a bela donzela que domina leões, como Astarte-Ishtar — este tema carrega um significado profundo — e um deles é o do espírito que domina os poderes da coroa da realeza. Podemos compreender isso ao assumir Astarte-Ishtar como se fosse os poderes na coroa real e lilin como forças que a suportam — e no caso de rebelião, atacam. Isto significa que os efeitos nocivos de lilin em nossa vida são sempre uma conseqüência do acolhimento destes espíritos ao permitir que ‘o leão se torne selvagem’...


Nos textos ugaríticos disponíveis, encontramos a palavra KI-SIKIL-LIL-LA, mencionado como um chamado à ‘bela donzela’. Na verdade, esta é uma palavra de poder replicando a natureza mágica no crujar da coruja. Vemos este encantamento ou partes (Kilili) dele sendo utilizados em referência ao espírito Orina lili que se diz ser a ‘rainha na janela’, utilizado tanto para apaziguar este espírito quanto para afastá-lo. Uma pessoa doente ao ver uma coruja em sua janela pode ter certeza que está sendo visitado por lilins e pode utilizar a janela para recitar contra-conjurações para expulsar os espíritos da doença. A doença implícita apoiaria mais a conexão com o Mundo Inferior e o reino da Morte.

Não é incomum ver Lilith sendo referida como uma deusa protetora, uma força de regozija extático. Em relação a tal natureza exultante de Lilith, observaremos um texto ugarítico que fala da variedade de demônios femininos e influências hostis e ver como ela é percebida:

3. Em todo mal, tua fórmula é vida, ó Marduk...
6. Na rua, eles (os demônios) são produzidos pela Terra...
7. ... tudo o que é mal, toda coisa nociva,
8. toda coisa mortal... ao Mundo Inferior retorna
10. Todo mal, toda doença, que em tua carne ou em teus músculos é encontrado
11. que o Encantador dos deuses, para que o Sábio asalluhi, de teu corpo pudesse criá-los...
16. Muitos são seus males: eu não conheço todos os seus nomes. Eles são
conjurados...
20. Ea os criou, a Terra fez com que eles crescessem grandemente
22. a vermelhidão-nociva, a amarelidão-maligna, a ahhazu,
23. ... a febre, almu e allamu, a enxaqueca e a dor de cabeça
26. a alu malfazeja...
27. a sassatu, a astu,
28. a labasu e a ahhazu, a hayattu, a ardat-lili
29. e a lilitu, o catarro e a gripe

Como vemos, Lilith é mencionada juntamente com uma hoste de espíritos que são hostis ao bem-estar do ser humano, e a seguir também encontramos espíritos como Namtar, epidemias, e Unna, febre, mencionados como ventos demoníacos.

Espíritos como Lilith, Lamasthu, Agrat e Mahlat são todos vistos como espíritos que estão ‘andando ao redor da casa’ e que tentam entrar no lar e causar a morte prematura de homens e crianças – ou um abatimento geral da alma e espírito — especialmente dos homens. Estamos falando do fenômeno que conhecemos como succubi.

Ao falar de Lilith e Ardat-lili, elas estão em nossos textos referidas pela mesma palavra, ou seja, o epitáfio de Ishtar, Kilili — e vistas como uma coruja sentada na janela. Diz-se que estas corujas sentadas na janela incitam as donzelas a deixarem os aposentos para se alimentarem dos homens. Estes espíritos são virgens agressivas, como narrado em um texto traduzido por Landsberger, em 1968:

Donzela, que (diferente)como outras mulheres nenhum homem fecundou,,
Donzela, que (diferente)como outras mulheres nenhum homem desflorou, ,
Donzela, que no colo de um marido não teve sua sexualidade tocada,
Donzela, que no colo de um marido não retirou suas vestes,
Donzela, cujo broche nunca foi desprendido por um belo homem
Donzela, em cujos seios nunca houve (qualquer) leite.


Como vemos, ela é uma predadora sexual — traduzida no poder da frustração sexual. É interessante observar que Astarte-Ishtar, ao compartilhar a palavra Kilili com os espíritos Lilù e Lilith revela uma conexão encontrada nos pássaros noturnos. Em Maqlû 3 também encontramos Ištaritu (devotos de Ishtar) entre as pessoas com a reputação de dominar as artes da feitiçaria e bruxaria.

É aqui, onde Astarte-Ishtar e Lilith afluem em Uma, onde encontramos a potência sexual em pleno esplendor. Aqui elas são a centelha erótica que penetra os sonhos e eclipsa o Sol – como as succubi que seduzem sob uma lua negra e a divindade que torna a terra e a carne férteis. Lilith é em si o frenesi da frustração sexual, as frias brasas das estrelas mortas e a memória do sangue sobre o fogo levado nas noitesde vento frio, onde os ramos das árvores que arranham as vidraças te seduzem a abri-las...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Tradição, Verdade & Labor



This text was originally written in english and posted in The Starry Cave. Our english untamed readers may read the original text clicking here.


Tradição, Verdade & Labor


A idéia de ‘tradição’ está sujeita a uma variedade de interpretações — e isso não é surpreendente, dado os vários campos da atividade humana nos quais vemos esta palavra utilizada. Podemos falar de uma receita de queijo tradicional pela mera virtude de ser passada por gerações. Há uma sucessão estendida ao longo do tempo que passa adiante dado conhecimento. Neste sentido, qualquer coisa que virtualmente passou pela história pode ser entendida como tradicional.

Quando falamos de tradição em relação a culto, fé e doutrina — quando nos aventuramos dentro dos campos do sagrado e das cavernas de mistério, uma determinada visão de mundo é que está sujeita a sucessão ou transmissão.

A visão de mundo tradicional é geralmente chamada de perene e replica uma visão de mundo encantada, típica para a era pré-moderna, onde o visível e o invisível compartilhavam do mesmo espaço. A exposição mais clara da doutrina tradicional, neste sentido, é encontrada em Platão e seus sucessores neoplatônicos; poderíamos falar de uma sucessão filosófica que remonta ao início dos tempos — mas com uma referência comum em Platão e o mundo das Idéias.

O início do tempo marca a divisão entre a Era de Saturno, a era de ouro que antecede a Júpiter estabelecendo leis e o tempo. Lei e tempo existem como base para a visão de mundo moderna — ou paradigma moderno, caso prefira. A Lei se manifesta na demanda por ordem, simetria, dualidade e taxonomias normativas em qualquer campo da atividade humana, em todos os domínios possíveis. Taxonomias são naturalmente heurísticas úteis para se movimentar no mundo, mas, basicamente, a taxonomia é apenas uma tentativa de exegese descritiva daquilo que uma coisa ou objeto possa ser. Estas descrições são sempre conferidas em relação a um posicionamento específico no tempo — onde a pessoa que faz o processo descritivo é em si um produto do tempo, história, cultura e geografia. Por isso a taxonomia tende a estabelecer o mesmo a partir do outro, isolar algo ao rejeitar sua ligação com outras coisas.

A ordenação tradicional se diferencia da taxonomia moderna por estar enraizada nas idéias, princípios eternos que podem se manifestar em incontáveis variações. Ao invés de descrever uma manifestação em relação a outros objetos e coisas manifestas, ordem busca revelar a origem, a natureza essencial do manifesto. É uma visão baseada na percepção vertical e não na percepção horizontal tão típica das leis e tempo que regem a era moderna.

Isto significa que a tradição, a fim de ser tradicional em um contexto sagrado, deve estar arraigada em uma conexão com a fonte e as idéias eternas. Isto vem com uma hierarquia muitas vezes apresentada como uma corrente dourada do ser, onde a mente pura emana idéias eternas até atingir a manifestação. A manifestação é um complexo, pois todas as coisas manifestas são compostas de várias idéias — no entanto, com uma essência inerente que lhes dão um sentido particular.

A visão de mundo tradicional é como o pólo situado em uma visão cósmica e na compreensão de todas as coisas emanando do Um, e finalmente, criando o vasto campo da experiência humana. A experiência humana é um binário. Ao andarmos pelo mundo da experiência, também estamos gerando o nosso próprio mundo interno. Há dois planos diferentes — mas certamente nosso mundo interno evoca as idéias eternas, ainda que na forma de uma mistura, um agrupamento. A bússola para organizar nosso mundo interno é a psique ou alma, e eros. A alma é a extensão divina em todos os seres humanos e eros é a própria força da criação manifesta no amor, avidez, atração e rejeição.

Nosso mundo interior é novamente um binário — ou melhor, uma encruzilhada — pois é mediada pela a alma que encontramos em um dado conjunto de predisposições no organismo humano e no momento que temos a nossa primeira respiração, quando somos confrontados com um ambiente e mundo único. Nossa alma divina e as faíscas da vida interior começam sua jornada em direção a autodescoberta.

A jornada humana, com todo o seu amargor e dulçor, rejeição e atração, amor e miséria, é o que faz a nossa condição humana. Temas gnósticos típicos vêem o mundo da matéria como uma prisão, ou como o próprio Inferno. Também pode ser visto como uma aventura, onde qualquer um se torna herói e tolo, ou como uma piada cósmica. Não importa qual idéia abraçamos para vincular a tela da experiência humana, a condição permanece — e com esta a jornada rumo ao Self.

Tal jornada está nas premissas tradicionais, feita com o auxílio do coração ligado à fonte e uma alma acompanhada por daimons. Esta jornada é para o homem moderno uma corrida de ambição e depressão, onde o propósito é visto na aclamação e aceitação social. Não existe conflito per se nisto, exceto que o homem e a mulher tradicional saberão por que as escolhas são feitas e as estradas são tomadas e não buscarão a ambição pela ambição — mas porque isto era o que estava reservado pelo o seu próprio Destino.

Há uma aceitação da doutrina sagrada e ordem celestial na perspectiva tradicional, uma certa humildade diante da Verdade que pode provocar o presumível orgulho do espírito da modernidade, que descarta o Destino e o Caminho em favor da ambição e da auto-glorificação. Em vez de encontrar seu Self, há uma tendência de se criar um Self que só possui um valor temporal, passageiro, vazio de uma virtude eterna.

Uma perspectiva tradicional terá o foco na Verdade — a Verdade em si como algo dinâmico e ativo, e muito pouco das taxonomias modernas que visam a separação e oposição. A Verdade é sempre Uma — e possui muitos raios e radiações, pois a natureza da Verdade é entender pela virtude da sabedoria, e sabedoria é o que move as idéias eternas. E ao fim somos deixados nas Encruzilhadas da vida, com as cadeias de escolhas que nos aproxima do Self ou se afastam dele. Sobre estas duas perspectivas e seus paradoxos, William Blake diz o seguinte:

Uma Imagem Divina

A Crueldade tem um coração humano,
E a Inveja uma face humana;
O Terror, a divina forma humana,
E o Segredo a roupa humana.

A roupa humana é forjada de ferro,
A forma humana é de fogo forjada,
A face humana estabelecida em um forno,
O coração humano em uma garganta faminta.

Eternidade

Aquele que se prende ao prazer
Destrói a alada vida;
Mas aquele que beija o prazer enquanto ela voa
Vive no alvorecer da eternidade.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Iniciação e a Transmissão do Poder Hereditário - Parte 1





Por que a morte é necessária para que haja a iniciação e de onde veio a ideia de contrafazer a morte e seu drama durante um ritual formal? 

Por que o sangue é um dos veículos do poder? 

Como é feito a passagem do poder hereditário na bruxaria hereditária? 

Quem deve deter o domínio de curador do feiticeiro ofício hereditário e o por quê? 

É necessário que haja vocação e dom para se tornar o sucessor no comando da linhagem? 

Quem oficializa os ritos, é sempre a mesma pessoa? 

O ofício bruxo é uma obrigação?

Todas essas questões serão abordadas sem a pretensão de serem sanadas, mas nessa abordagem a gota da sangria abrirá um leque para futuras discussões.

- Leia mais em Congrega Lupino



sexta-feira, 22 de junho de 2012

Litha - O Solstício de Verão

O Solstício de Verão é uma celebração pagã que se festeja desde tempos imemoriais, por volta do dia 21 de Junho, aquando a chegada do Verão. Esta celebração, no que respeita ao divino, é puramente masculina, pois simbolicamente é aqui que o Deus se encontra no seu auge físico, pleno de robustez e virilidade. Nesta celebração estamos perante o dia mais longo e a noite mais curta do ano, e a partir daqui os dias alongam-se, em que o Sol nasce mais cedo e põe-se mais tarde.
 É nesta época que estamos perante o Sol quente do Verão, onde o Fogo tem uma importância enorme, seja o fogo per se, seja uma simples vela ou até mesmo o fogo simbólico, representando a Luz da Sabedoria que o Bode Azazel traz entre os cornos (...)
 
Leia o artigo completo em: Nas Sinuosas Encruzilhadas da Noite
Artigo por Carneo [Nas Sinuosas Encruzilhadas da Noite]

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Abordar com Interesse

Este texto é uma tradução do original 'To Approach with Interest', postado inicialmente no blog The Starry Cave.

For our untamed english reader, please read click here to enjoy a great journey into the teachings of Ifá.



Abordar com Interesse
por Nicholaj de Mattos Frisvold

O alicerce da filosofia de Ifá é de que todos nós nascemos bons e abençoados e que somos seres divinos em uma jornada humana. A jornada humana é simbolizada pelo mercado e pela viagem em si. O mercado é um local onde o bom e o mal podem ser feitos, onde roubos e verdades se misturam. A viagem em si significa um movimento de um lugar para outro, onde no entremeio o inesperado pode ocorrer. Ifá diz que no final de qualquer viagem bem feita, há uma cama de paz e tranquilidade para aqueles que utilizaram iwá rere (bom caráter) como suas bússolas nesta viagem.

Ifá ensina que a criação foi causada pelo o sonho da luz que se tornou visível no odu Eji Ogbè, que significa a elevação de ambas as mãos em direção ao céu – pois com o nascimento da luz veio também o seu contraste, Òyèkú méjì, que significa escuridão, o fim dos ciclos e a inalação que faz de Ogbè ativo. A idéia de levantar ambas as mãos ao céu implica em aceitar inícios e fins, luz e escuridão, com igual reverência e gratidão.

O omo odu Ogbè’wori fala da necessidade de transformação no mundo, sobre como não podemos reconhecer a doçura do mel a menos que também tenhamos sentido a amargura do orogbo (o amargor da noz da cola). Um dos versos nos conta:

Ogbè’worí
B’áye wón ba ndùn
B’áye wón bá ndàra
Ìwá ibàjé wón nhú


Tradução:
Quando a vida é doce para eles
Quando a vida é boa para eles
É quando eles começam a se comportar mal

O infortúnio e as complicações não são necessariamente a mesma coisa; uma complicação pode se tornar um infortúnio se abordarmos com resistência e negatividade. Quando assim o fazemos, alimentamos a complicação em nossa vida com orações pedindo para que mais complicações sejam trazidas para nós. No entanto, se abordarmos com interesse e tranquilidade, alimentamos as complicações com luz e bondade.

Ifá é inflexível quanto a importância da ancestralidade; na verdade, todo o corpo de Odu Ifá é a sabedoria dos ancestrais. Ao tomar consciência das situações no passado e suas soluções, podemos efetivamente transformar situações indesejáveis em prosperidade, as complicações em abundância. Outro verso no livro de Ogbé fala sobre como o próprio Orunmila saiu em viagem encontrando o infortúnio, e não a abundância que ele procurava. O verso conta como ele saiu das águas de sua confusão emocional e pediu em lamento aos ‘dezesseis donos do mercado’ pela ajuda do pássaro chamado Agbe (Touraco Musophagidae). O pássaro azul Agbe é um anunciador de boa fortuna e diz-se expor os tesouros escondidos de Olokun, o dono do Oceano, quando a ele é solicitado. O verso também fala sobre como Orunmila fez o sacrifício apropriado, neste caso uma mudança de atitude, onde sua consciência errática foi acalmada e neste calmo estado de espírito ele foi capaz de lembrar da longa corrente de vitoriosas conquistas que o levaram a este momento difícil.

O ensinamento é que as complicações em nossa jornada rumo à abundância também convidam a uma oportunidade ímpar para outras formas de vitória - enquanto nos aproximarmos com interesse e não com resistência, pois em cada dificuldade reside a promessa da vitória. De certo modo podemos dizer que Ifá vê complicações e dificuldades apenas como uma situação – a coloração é dada pela forma que abordamos a situação. Ogbé’rosún diz o seguinte:

Ogbè’rosùn
A dífá fún Òrúnmìlà
Ifá nsawo lo àpá òkun
T’òun ìlà méjì òsà
Nílé olójà mérìndínlógún
Wón ní Baba ò nìí padà dele
Baba wá m’ekún s’ekún ìgbe
Ó fi ìyèrè se ìyèrè aro
Ó nÍ: Agbe gbé mi dele o ò Agbe
A kìí rajo k’á má dele o
Agbe gbé mi dele o
Kò pé kò jìnnà
E wá bá ni bá àrúsé ogun
Àjàse ogun l’á wá wá


Tradução:
Os ensinamentos Ifá foram interpretados
Para Orunmila
Quando ele estava indo em uma missão espiritual
Na costa do oceano
Quando ele estava no meio da lagoa
Na casa dos dezesseis donos do
Mercado
Eles disseram que Baba Orunmila nunca
Voltaria para casa
Mas ocorreu que Baba Orunmila começou
A chorar de forma poderosa, transformando
Seu choro em um grito alto
E ele converteu seu lamento em um canto
de tristeza
Ele bradou, dizendo: pássaro Agbe, leve-me para casa
Oh Agbe
Nós não vamos a uma viagem de modo que não possamos
Voltar para casa
Então, pássaro Agbe, por favor, leve-me para casa
E depois, em pouco tempo e em um futuro não muito distante
Venha e junte-se a nós na vitória alcançada
Através do sacrifício
Vitóriosos na dificuldade, como chegarmos a ser

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Introdução aos Guardiões e Atalaias da Natureza

A Humanidade Arcaica tinha, na sua génese, uma percepção e assimilação dos fenómenos naturais em nada a ver com a maior parte dos seres humanos de hoje. Entre várias justificações, poderá mencionar-se o facto de actualmente sermos seres sociais mais distantes dos espaços verdes (locais, aliás, cada vez mais raros e/ou inexistentes) dos meios urbanos, onde se concentra a maior parte da população, que tenta fugir das regiões rurais, onde, por excelência, se avistam as terras, montanhas, rios, etc. em todo o seu esplendor. Esses locais são também zonas de referência para todos os amantes da natureza, e maravilhosos spots de culto ritualístico pagão, onde as forças do Divino estão indiscutivelmente mais presentes (...)


Leia o artigo completo em: Nas Sinuosas Encruzilhadas da Noite
Artigo por Aquam [Nas Sinuosas Encruzilhadas da Noite] 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ética Ecológica, Moralidade e Lei Tríplice: A desconstrução da Wicca das Massas

Entre o fim do séc. XIX e os anos 40 do séc. XX, foram sendo descobertos artefactos que demonstravam a predominância do género feminino em sociedades arcaicas como sacerdotisas e curandeiras, teorias essas que viriam a acompanhar a emergência do Feminismo e que viriam a fundamentar a possibilidade desses papéis nas mulheres. Aliado a isto, o neo-paganismo (essencialmente a Wicca) que engordava na visibilidade perante o público, tinha vindo a demonstrar, igualmente, um culto matriarcal da Deusa-Mãe, apesar das inúmeras e vãs tentativas de contra-balançar justamente o princípio feminino e o princípio masculino. Na verdade, isto sentiu-se maioritariamente no público juvenil americano que ansiava pela adesão a movimentos de contracultura, materializando-se num culto com preocupações ecológicas, e abandonando as características inciáticas, mistéricas e fechadas, para se reformular à luz de uma religiosidade civil e aberta (...)

Leia o artigo completo em: Nas Sinuosas Encruzilhadas da Noite

Artigo por Ignis Spiritum | Nas Sinuosas Encruzilhadas da Noite]

domingo, 11 de março de 2012

Amantes na Floresta de Símbolos

Amantes na Floresta de Símbolos
por Nicholaj de Mattos Frisvold

You, our untamed english readers may read this passionate text from the original source, the Starry Cave, clicking here.


A vida é um processo de transformação, uma combinação de estados que temos de atravessar. As pessoas falham quando querem eleger uma situação e permanecer nela. Isso é um tipo de morte”.

- Anaïs Nin

À medida que andamos pelos caminhos e trilhas da vida, há um interno impulso constante que nos questiona se devemos permanecer ou seguir adiante a cada sinal ou bifurcação da estrada, A escolha de ficar, permanecer em um oásis de prazer, abençoar ou amaldiçoar é dada a todo o momento – e com essa morte surge um amigo obscuro que nos pede para ficar e aceitar a situação encontrada. Nossa jornada no mundo nos leva ao encontro com outros peregrinos, viajantes e amantes – aqui, mundos podem colidir ou fundirem-se. Em nossa jornada todos tomamos guias – por vontade própria ou por nossos atos e declarações ao mundo – e nossas estrelas-guias e a inteligência de nosso daimon prepararão o mapa único que é nossa vida – uma jornada de mil possibilidades...

Às vezes nos contemos, pois não queremos nos perder. Muito freqüentemente não queremos nos perder, pois já temos nossa âncora atracada em águas tranqüilas e seguras. Escolhemos um estado para permanecermos nele, porque isso é seguro, porque isso nos deixa livre da dor. Entretanto, não é através de nossas cicatrizes e feridas que chamamos a luz em nossa alma?

Nesta jornada conhecida por nós como vida – esta combinação de estados onde constantemente escolhemos se ficamos ou partimos – está a essência do amor com suas flechas ardentes e asas. O anjo mais incompreendido de todos, Cúpido – Eros –, o fruto do amor torna-se mercúrio e movimento quando tomado como daimon, e talvez dê algum descanso nos estados escolhidos, porém ele inspirará uma bondade amorosa, uma paixão constante e inflamará o amor repetidas vezes, como pegadas de mel na trilha que a vida toma.

Ao assumir Eros como a lanterna e bastão, lutas ocorrerão, a escuridão abraçará a terra e coração, e a paixão baterá no ritmo da confusão ao nos fazermos vulneráveis. Esta é a apaixonada natureza de Eros movendo o mundo e os mundos.
 
Isso significa que mesmo no caminho do amor destruição, ódio e antagonismo podem lhe procurar (porque eles fazem naturalmente parte de seus mistérios…) – para dar-lhe os golpes que permitirão que a luz e o amargor - amáveis orquídeas - entrem em sua alma. O amante está a todo o momento armado com o mel – seja embebido em veneno ou ervas de folia e libertinagem – e, como tal, o guerreiro amante é como o samurai que respira gélidas rosas em sua lâmina e que corta através da ignorância e ódio com um sorriso apaixonado, o que habilita a todos os envolvidos o avançar adiante na jornada – se eles aceitarem a entrada da luz.

O culto de Eros/Cupido na Antiguidade teve poucos santuários - pois ele era o próprio sumo da vida! O processo de transformação, tal como nos distanciamos da morte temporária e abraçamos o êxtase do constante ser, renovação e devir! A questão é a todo o momento se você quer viver sua vida em ondas extáticas ou na escadaria da morte e esquecimento…

Nas reluzentes luzes da lanterna de Eros a vida é uma floresta – uma floresta de símbolos. À medida que entramos nesta floresta podemos caminhar como amantes, guerreiros, bodes, pavões, fantasmas e tudo o que for escolhido e assumido. A escolha assumida revela faróis de luz e guias que nos levam aos picos da vida vividas com paixão e os vales de recusa da vida, e, portanto, morte. O amante seduzirá tanto a vida quanto a morte e espalhará o mel do veneno ou luxúria, pois cada estado concretizado é deixado nas celebrações da vida… Pois no amor também encontramos um arco-íris de polaridades, – e os poderes para conquistar todas – a essência da própria jornada. Se esta for sua jornada, ame-a e ela se revelará nas florestas do mundo, vermelho em dentes e garras, mas envolta em paz e promessa de descanso… seu abraço será um templo vivo que traz oráculos e paixões para a própria viagem – ou como Charles Baudelaire disse em uma das suas flores do mal, dadas de seu coração de amor…

Correspondências


A natureza é um templo, onde de pilares vivos, um fluxo
de palavras confusas é, às vezes, permitida a queda:
O homem viaja nele, através de florestas de símbolos, onde todos
o observam, com olhares familiares

Como ecos distantes que ao longe congregam,
em uma sombria e profunda unidade,
vasta como o ar da noite, em sua claridade,
perfumes, cores e som reverberam.

Há perfumes frescos, como as carnes das crianças,
Doces como o oboé, verdes como as pradarias,
- e outros, ricos, gloriosos e proibidos,

Possuindo o poder expansivo dos infinitos,
Âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
que cantam os êxtases do espírito e sentido.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A Tinta das Estrelas

You, our untamed english reader, may read this starry text, The Ink of Stars, from the original source, the Starry Cave, clicking here.


A Tinta das Estrelas
por Nicholaj de Mattos Frisvold


Nada acontece ao homem que a natureza não o tenha preparado para suportar.
(Marcus Aurelius)

O homem moderno constantemente tenta com muito esforço compreender o mundo, a dar sentido à sua posição no mundo – com a razão de sua experiência de mundo ser como é. É constantemente um exército de perguntas que invadem a vida do homem moderno; questões enraizadas na pergunta ‘por que’ as coisas são como são. Para os tradicionalistas estas questões eram facilmente respondidas – tudo se tratava de olhar para as estrelas e perceber a marca celestial ímpar que o fez ser quem você é.

A astrologia teve um avivamento conforme entravamos na era moderna – mas neste avivamento as considerações práticas e pragmáticas da astrologia foram esquecidas, e a astrologia foi reformada segundo os desejos do homem moderno. Ela se tornou uma ferramenta para a busca da alma – para revelar quem realmente somos – porém, a astrologia clássica está disposta de forma a fornecer todos os indícios em torno de sua vida e sonhos, para que seja possível você perceber quem você é. Deixe-me dar um exemplo atual bem próximo do coração de muitos homens e mulheres – como entender o sofrimento, os sonhos e o destino?

Nossa vida é aquilo que imaginamos ser. São nossas esperanças e sonhos, nossos medos e pesadelos que se unem como algo único para trazer à existência o caminho particular que poreja diante de sua Alma. A Imaginação é a matéria da criação – o que somos capazes de imaginar é um potencial a ser usado, abusado ou descartado.

Na astrologia clássica, a 11ª casa, de acordo com Júlio Materno, é a casa de nosso bom daimon, e a 12ª de nosso mau daimon – daí vemos a natureza afortunada da 11ª casa e o infortúnio atribuído à 12ª. Estas duas casas servem como um suporte para a 10ª, que revela o que o Destino e a fama podem nos dar. É nesta tríade que o drama de nossa vida se desenrola.

Abu Mash’ar diz que a 11ª casa é a casa da esperança, fortuna, riquezas e fama, enquanto a décima segunda é relacionada ao sofrimento e inimigos. A décima é relativa aos deveres, reputação e fortuna – é uma casa real, o reino das memórias. Tudo isso nasce a partir da primeira casa, nosso horóscopo, definido pelo signo ascendente – ‘o regente sobre o corpo e a vida do próprio homem, e todos os seus empreendimentos’ (Introductions to Traditional Astrology. Cazimi Press. p. 71).

Nossos sofrimentos e esperanças, nossos inimigos e verdadeiros amigos são todos conseqüências do ditame de Destino na 1ª casa, onde a 10ª nos dá a  fórmula e restrição para alcançar a plenitude de Destino. Há certo jogo entre imaginação e manifestação na 11ª e 12ª casas que são, em última análise, dependentes das regras do jogo dadas na 10ª para efetivar com sucesso o Destino dado na primeira casa.

Isso significa que todos somos variações únicas das possibilidades divinas escritas com tinta estelar nesta terra. A congregação dos daimons que chegaram ao nosso nascimento marca nossa estrela ascendente – ela nos dá a dinâmica particular que encobre o self (eu) e nos ajuda a desenvolver a individualidade. Mas os regentes de nossa vida e corpo não são nossas almas. Nossa alma reside na 11ª casa… que é a casa do amor.

Não importa o que o Destino determine, amor e eros é aquela evanescência daemônica que nos coloca em alinhamento com o self (Eu) e Destino. Um guerreiro governado pelo ódio é dominado pela 12ª casa – ele cumprirá seu dever por meios que levem ao sofrimento. Um guerreiro dominado pela 10ª casa terá um claro senso de propósito e estará pronto para aceitar seu Destino a qualquer momento.

Ser fiel ao Destino jaz na habilidade de fazer o que fazemos como se fosse nosso último ato – há um abandono imprudente nisso e como deveríamos abordar a vida. Isto se apóia na crença de que o que quer que aconteça, assim há de ser porque assim o imaginamos, ou por determinação de Destino – de qualquer forma, é relacionado à forma como acolhemos Destino e as conseqüências – como crianças e desajustes de nossa própria criação.

Certamente podemos escolher viver em ilusão – imaginando nossos próprios falsos amigos – mas isso convocará a ação da 12ª casa em nossa vida e o sofrimento será nossa maldição. É melhor tratar tudo o que ouvimos como opinião, e tudo o que vemos como perspectiva, pois assim podemos nos reservar ao conforto da alma à busca da verdade, descansando seguros de que o que quer que tenhamos como fardos e bênçãos, Destino sabe exatamente que podemos carregá-los ao trono de Feliz Destino.