domingo, 24 de fevereiro de 2013

Transformar a Batalha em Dança

This is a portuguese translation of the original article published in The Starry Cave, entitled To Turn a Battle into Dance. If you are an english reader, please click here to visit the author's blog and read the original text.



Transformar a Batalha em Dança

Provocação é algo que todos nós experimentamos, seja por acaso ou deliberadamente. Uma palavra impensada dita num momento inoportuno ou a ação precipitada que damos ao mundo em um dia ruim pode convidar o conflito. Às vezes as pessoas provocam algum tipo de reação porque se sentem mal com elas mesmas ou porque sofrem de inveja. Em outros momentos, é o medir de força, ou buscam vencer uma discussão para que se sintam melhor com elas mesma ou com a filosofia que tomam como bússola em suas vidas. Não há limite para o que pode nos provocar e, por isso, em vez de acolher a energia negativa de uma provocação, é melhor dar um passo para trás e ver o que podemos fazer com a provocação. Para Oscar Wilde a resposta para uma provocação era pagá-la com bondade, pois nada provocaria mais do que isso.


Ifá põe iwa rere no centro da fortuna — um caráter alegre, calmo e próspero. Se é isso o que buscamos manter, qualquer provocação será somente uma dança, e não uma batalha. No odu Ogùndábàrà encontramos uma história sobre Obara, um jovem poder vigoroso associado com um Sango jovem e imaturo (o espírito do trovão e fogo) que desafiou OgunOgun é o patriarca dos caçadores, um poder primordial que deu origem as estradas, ferreiros, e foi fundamental na criação da humanidade. Podemos dizer que Ogun é a própria forja, enquanto Obara representa apenas o fogo — um produto mais jovem da forja. Nesta história Obara aparentemente provoca Ogun ao ponto de que ele está determinado a matar Obara, mas ao invés disso ele faz ebo/sacrifício. Neste caso, seu sacrifício foi uma mudança de atitude na qual ele percebe que poderia entreter a provocação de Obara, mas como uma dança e não uma batalha. O verso diz o que se segue:
Rìtìrìtì ni ojú ijó
Rìtìrìtì ni ojú ìja
A dífá fún Ògún
Nlo ba Òbàrà já ìjà kan
Wòn nì Ògún á dáa
Sùgbón ki Ògún wá sebo
Kí Òbàrà má baà kú síi lórùn
Ó gbó ó Ru
Wón ní adie kìí ba adìe já ki ó kú
Agbòn ìràwé kìí wúwo
Kí ó d’éru pa’ni

Na tradução de Karenga: 

Tumultuoso é o local da dança
Tumultuoso é o local da batalha
Este foi o ensinamento de Ifá para Ogun
Quando este estava indo se engajar na batalha com Obara
Eles disseram que Ogun atuaria bem
Mas que Ogun deveria fazer sacrifício
Para que Obara não fosse morto na
Peleja
Ele [Ogun] ouviu e sacrificou
Eles disseram que um pássaro não deveria lutar
Com outro pássaro até a morte
E uma cesta de folhas secas não é forte o suficiente,
Que seu conteúdo deva matar alguém

Esta é uma boa atitude para se manter quando confrontado com provocações em geral, pois se vemos a batalha como uma dança onde ‘golpeamos’ nosso provocador com ‘folhas secas’, podemos ensinar uma lição — e ganhar uma lição, embora também devamos ter em mente que a dança - dentre o povo iorubano - é vista como [composta de] movimentos cósmicos. A dança pode interpretar os movimentos das estrelas, ela pode levar a vida desorganizada de volta à harmonia e pode ser utilizada como divinação ou como um veículo para o diagnóstico de doenças. Em última análise, a dança tem o poder de curar e a dança de cura é realizada por pessoas que possuem iwa rere — um caráter jovial e calmo. Foi com esta atitude que Ogun tomou o desafio de Obara, sabendo que ele era mais velho, mais sábio e mais forte — ainda assim, estamos todos juntos na dança da vida, neste mercado que é a nossa jornada. Ogun entendeu isso e abraçou o desafio com interesse e alegria e não como uma batalha. Certamente esta é uma atitude mais digna quando confrontados com provocação — na verdade, esta atitude tem em si um fio socrático e nesta existem mais metas para a ampliação de horizontes de compreensão do que a provação de um ponto ou a definição de quem está certo e quem está errado. A batalha que se transforma em uma dança de palavras e opiniões estimulando e recompensando mutuamente — e nisso a dança cósmica de alegria e harmonia é replicada. Ase O!

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